Match Point da Mente: quando a depressão faz quebra de serviço no tênis

O barulho seco da bola contra a corda, o silêncio tenso entre os pontos, a vibração da torcida, os flashes, os contratos, a pressão de ser mais do que um atleta — de ser uma marca. No tênis, a performance é medida por vitórias, mas também por uma carga invisível que pesa nos ombros dos jogadores: a saúde mental. Cada ponto disputado pode ser o reflexo de uma batalha silenciosa que acontece dentro da mente. Para o público, o tênis é espetáculo. Para quem está dentro da quadra, pode ser um fardo.

Ao contrário de muitos esportes coletivos, o tênis é uma jornada solitária. Os jogadores viajam praticamente o ano todo, lidam com diferentes fusos horários, mantêm uma equipe sob sua responsabilidade e têm de defender a cada semana a pontuação que sustenta seus contratos e reputações. Uma lesão, uma sequência de derrotas ou mesmo problemas pessoais podem custar não apenas rankings, mas também o bem-estar emocional. A cobrança não vem apenas de si mesmos, mas de patrocinadores, mídias, fãs e até dos próprios familiares. O sistema é implacável: se você não rende, está fora.

Nos últimos anos, diversos nomes de peso expuseram publicamente suas batalhas contra a depressão. Naomi Osaka chocou o mundo ao se retirar de Roland Garros por não suportar a pressão das entrevistas obrigatórias, relatando ansiedade e episódios depressivos. A sua atitude abriu um debate necessário sobre os limites entre obrigação profissional e cuidado pessoal. Nick Kyrgios foi ainda mais fundo ao admitir pensamentos suicidas e automutilação durante um período de baixa no circuito. Seu relato cru mostrou que talento e carisma não são escudos contra o sofrimento psíquico.

Outros nomes também vieram a público. Matteo Berrettini enfrentou uma série de lesões que o tirou do circuito por mais de sete meses. Ele contou que o maior desafio nem foi físico, mas emocional — acordar e levantar da cama era um esforço descomunal. Dominic Thiem, após conquistar o US Open, mergulhou em uma crise interna e perdeu a motivação de competir. O austríaco anunciou aposentadoria precoce, aos 31 anos, sinalizando que a glória nem sempre garante estabilidade.

Mais recentemente, Alexander Zverev tem enfrentado não apenas adversários dentro de quadra, mas também fora dela. Acusações sérias de violência doméstica e processos judiciais afetaram diretamente sua imagem e sua concentração. Mesmo com o encerramento judicial dos casos por meio de acordos financeiros, o tenista alemão confessou sentir-se vazio e desconectado, com nível técnico cada vez mais irregular. A pressão externa transforma a quadra em um território ainda mais hostil.

Não é coincidência que tantos tenistas sofram em silêncio. O ambiente competitivo extremo, o sistema de pontuação que castiga qualquer ausência, o excesso de viagens, a exposição pública e a exigência por resultados formam um terreno fértil para o esgotamento mental. Além disso, o tênis não tem temporadas fixas com intervalos longos — há sempre um torneio, uma chance, um risco de perder tudo o que foi conquistado. O descanso nunca é pleno, e o medo da irrelevância acompanha cada atleta como uma sombra.

Felizmente, a discussão sobre saúde mental começa a ganhar espaço. Algumas instituições esportivas passaram a oferecer apoio psicológico e espaços de escuta aos atletas. Mas ainda há um longo caminho pela frente. O preconceito, o medo de parecer fraco, a lógica de que “você tem tudo e não pode reclamar” continuam calando vozes que precisam ser ouvidas. É necessário enxergar o atleta como ser humano antes de tudo — alguém que sente, erra, cansa e precisa de cuidado tanto quanto de treino.

A prevenção da depressão no esporte exige estratégias que vão além do físico. É preciso investir em equipes multidisciplinares que incluam psicólogos, estabelecer calendários que respeitem o limite do corpo e da mente, e promover a cultura do diálogo, onde vulnerabilidade não seja vista como falha. Atletas que compartilham suas dores ajudam não só a si mesmos, mas também colegas e futuras gerações.

O tênis pode ser um palco de superação, mas também um espelho de solidão. E só vence, de fato, quem consegue equilibrar mente e corpo diante de tanta exigência. A saúde mental não é um detalhe no esporte de alto rendimento — é o ponto central. Porque no jogo da vida, ninguém deveria perder por esgotamento silencioso.


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